Um Uruguai experimental
- Details
- Categoria: entrevistando
Algumas pessoas nasceram para o vinho, e têm tanta história boa para contar, que a gente não pode deixar passar... Entrevistamos o enólogo uruguaio Gabriel Pisano, um jovem talento.
Gabriel nasceu em 1983, literalmente em um vinhedo. Depois de terminar os estudos de enologia no Uruguai em 2003, Gabriel viajou para fazer sua primeira colheita em outro local, na Califórnia, na Ramey Wine Cellars. Trabalhou em muitas colheitas fora do Uruguai, para continuar aprendendo, sempre assumindo cada vez mais responsabilidade. Em 2006 na África do Sul, na De Wetshof Estate, especializada em brancos e Pinot Noirs, e também na Beyerskloof, com o enólogo pioneiro no desenvolvimento da Pinotage. Em 2007 no Chile, como enólogo responsável pela vinificação de Clos Apalta, com consultoria de Michel Rolland. Em 2008 na Espanha, na vinificação de uma pequena e notória bodega no Priorato, chamada Mas Doix. E durante esses anos, enquanto não estava no exterior, trabalhava no Uruguai na bodega da própria família, em diferentes funções. Atualmente, faz parte da equipe enológica da bodega Pisano, além de desenvolver a Viña Progreso, que ele mesmo intitula como sua “bodega experimental”.
De nossa conversa, destacamos algumas perguntas (e respostas, é claro) que demonstram seu caráter empreendedor e inovador:
Para começar, por que você esmaga uvas com as mãos?
Desengaçar ou esmagar com as mãos é sempre mais suave e delicado com as uvas. O processo automatizado, por mais que as máquinas sejam de última geração, sempre deixa algum pedúnculo (haste que sustenta o bago), que no tanque de fermentação pode aportar gostos mais amargos.
E de onde surgiu a ideia de fermentar a uva Tannat em barril aberto?
Veio da minha experiência no Priorato, onde muitas vezes era necessário, em vez de tanques, utilizar barris sem tampa para a fermentação. Percebi que o vinho que fermentava dessa maneira ficava mais suave que os outros. Aí, pensei que podia funcionar para amadurecer e suavizar os taninos da uva Tannat! O contato com carvalho, desde o início, traz a suavidade do vinho velho amadurecido por muito tempo em barril, sem perder a potência e o caráter frutado da juventude.
E a sua experiência com a Tannat em vinhos espumantes?
Quando eu saí da escola de enologia, queria experimentar coisas novas com a Tannat. A ideia era fazer um espumante, e um vinho de sobremesa ou licoroso. Em 2004, junto com um enólogo que trabalhava na Pisano, fizemos muitos testes e chegamos ao Brut Nature Negro e ao licor de Tannat EtXe Oneko, que até hoje fazem muito sucesso. O espumante é produzido com 6 meses de contato com as borras (amadurecimento sur lies), pelo método Champenoise (2ª fermentação na garrafa), e sem adição de licor de expedição.
E por que produzir vinho também com uvas raras no Uruguai, como a Sangiovese e a Viognier?
Os tempos estão mudando, os consumidores sabem cada vez mais sobre vinho, e estão ávidos por coisas novas. Sem renegar a Tannat, que é um diferencial que o Uruguai tem mesmo que explorar, penso que qualquer variedade que se cultive é potencialmente atrativa para determinados nichos de mercado. Sem falar no desafio de se alcançar algo excelente com uvas com as quais ainda não há know-how aqui, e no desafio comercial de fazer alguns consumidores saírem da zona de conforto e se animarem a experimentar esses vinhos.
Quais os seus próximos planos?
Estou sempre tentando alcançar coisas novas. É bom manter a bodega pequena porque, se crescesse muito, eu perderia o controle pessoal do qual posso desfrutar hoje em dia. O certo é que continuarei buscando processos diferentes e buscando variedades ainda não exploradas para desenvolver. E espero fazer as pessoas se animarem a experimentar meus vinhos.
Como dá para notar, um jovem e talentoso enólogo, com uma visão muito interessante sobre o vinho, seu país e suas oportunidades.
Agradecemos ao Gabriel Pisano pelo prazer de entrevistá-lo, e por ter compartilhado conosco sua paixão pelo vinho!
Esperamos que você tenha apreciado a leitura! E, se quiser saber mais sobre a Tannat, uva emblemática do Uruguai, clique aqui. Ou, para ler sobre a produção de vinhos no Uruguai, clique aqui.
Seguir @tintosetantos Tweetar